02 agosto, 2012

Resenha: "Orgulho Asteca" - Gary Jennings

 Não era minha intenção que a primeira resenha fosse desse livro, porém tive uma decepção com o que eu antes havia escolhido. Resolvi, portanto, escolher em termos de qualidade. E cá estou a publicar minha primeira resenha, de um livro que considero simplesmente fantástico. Não só pelo meu amor por arqueologia, mas pela forma de escrita e pela própria história em si. Bem, vamos à resenha...


Título: Orgulho Asteca
Autor: Gary Jennings
Páginas: 548
Editora: Record
Ano: 1980
ISBN: 85-01-06626-1
Categoria: Romance Norte Americano
Classificação: *****
Próximo Título: Holocausto Asteca

Sinopse: Antes de os primeiros europeus pisarem no continente americano, no México um poderoso império controlava uma vasta área, cobrando tributos de inimigos vencidos em combate e acumulando riquezas incalculáveis. Um povo guerreiro que cultuava deuses igualmente violentos que só se acalmavam com o maior de todos os sacrifícios: vidas humanas.
Apesar de todo esse poder, os astecas caíram diante da superioridade tecnológica dos espanhóis. E, além de derrotados, testemunharam seu passado ser apagado pelos conquistadores, que viam seus cultos como adoração do demônio. Apaixonado por essa civilização muito desenvolvida, o americano Gary Jennings mergulhou em sua história e reconstruiu os últimos anos do Império Asteca em uma série de quatro romances inesquecíveis.
Neste primeiro volume, Orgulho Asteca, Mixtli, um ancião que sobreviveu à invasão, recorda e conta para os espanhóis sua vida e a de seu povo. Escriba, guerreiro respeitado e mercador poderoso, Mixtli viaja por todos os recantos do império, e descreve cada aspecto do dia-a-dia dos mexicas, como os astecas eram conhecidos.
Seus deuses, seus amores, sua cultura e seu cotidiano são o cenário deslumbrante para um romance histórico inesquecível. O relato empolgante que descreve de maneira vívida e sensual um dos reinos mais ricos, poderosos e impressionantes de toda a história da humanidade.

Sobre o autor: Gary Jennings nasceu em 1928, na Virgínia, Estados Unidos, filho de um impressor. Autodidata, trabalhou como publicitário e jornalista, tornando-se respeitado correspondente na guerra da Coréia, antes de dedicar-se exclusivamente à literatura.

Resenha
Encontrei “Orgulho Asteca” por acaso em uma prateleira da Biblioteca Pública daqui de Sete Lagoas – onde irei recorrer até conseguir parcerias com editoras rsrs – e não hesitei em pegá-lo pelo amor que tenho por arqueologia, além da leitura. Ao chegar em casa olhei melhor para o livro e, após ler sua sinopse fiquei receosa por começar a ler o que provavelmente seria um “documentário” redigido. 
 Sem a MENOR dúvida eu estava completamente enganada! Nunca poderia imaginar o quanto esse livro seria surpreendente, tanto em matéria da história dos astecas, quanto à história de Mixtli, o mexica personagem principal.
 O livro não passa de uma suposta série de correspondências enviadas a Don Carlos alguns meses após a chegada de seu povo na América. Seguindo ordens do Rei, o bispo e seus seguidores fazem o mais velho e são asteca que encontraram - e que estava se adaptando bem às novas crenças e regras impostas por eles - a contar sobre sua antiga cultura. Todavia, o velho utiliza de uma forma incomum para fazê-lo, contando sua história de vida desde quando menino. A sensualidade envolvida atrai ao Rei, que sempre ordena mais cartas, enquanto dá repulsa aos reverendos, que se sentem incomodados com os atos dele quando jovem...
 É simplesmente fascinante o caminho percorrido por Mixtli, que por ser míope não tinha muito futuro, mas teve uma vida movimentada devido aos seus sonhos de grandeza. Ele se empenhou e se tornou escriba – o que sempre foi seu desejo -, guerreiro e até mesmo mercador. A narrativa é uma delícia, mas não recomendo essa leitura a crianças, obviamente. Há muitos relatos que fizeram os frades saírem da sala onde interrogavam o asteca e arrancaram de mim muitas gargalhadas por pensar o que se passava por suas santas mentes. 
 Embora o romance em que o personagem viveu maior parte do tempo seja EXTREMAMENTE proibido, tornou-se muito bonito por ser totalmente verdadeiro. Mixtli nunca esqueceu Tzitzitlini, a primeira mulher que amou e com quem se relacionou: sua própria irmã... 
 Bem, deixemos isso de lado! Percebeu os nomes dos personagens? Isso de fato gerou certa dificuldade - Mixtli e Tzitzitlini eram os mais fáceis -. De tanto tentar pronunciar os nomes das pessoas, dos deuses, dos lugares fiquei completamente confusa e desisti, mas por serem distintos e de escrita impactante não causaram problemas de entendimento. 
 Uma das mais marcantes características foi a forma de a civilização ser abordada. Sua rotina era tão comum que dava para se imaginar vivendo naquele lugar. Eles trabalhavam, se casavam, estudavam cálculo, escrita e até poesia; tudo o que seria difícil de acreditar para um povo considerado bárbaro. Sempre tive a opinião de que as diversas culturas não têm tantas distinções como nos é ensinado. Eles faziam sim sacrifícios humanos, muito sangrentos e isso foi uma forma de me fazer “voltar à realidade” daquele povo. Todavia, achei completamente compreensível, não significa que devessem ser abolidos ou condenados.
 Tudo não passava de um costume. Eles tinham seus deuses e achavam que assim acalmariam sua ira. Até mesmo os sacrificados aceitavam, por pensar que após a morte algo melhor lhes aguardava. Não achei muito diferente dos espanhóis que tanto falavam daquelas atrocidades, visto que, da mesma forma, extinguiram seu semelhante. Afinal, cultura e cor à parte, continuavam sendo pessoas. E, pelo que ficou claro através do árduo trabalho de Jennings, os astecas eram realmente muito inteligentes e civilizados, tanto que deixaram para o mundo incalculáveis maravilhas.
 Simplesmente ADOREI “Orgulho Asteca”. Minha paixão por arqueologia foi ainda mais alimentada com os conhecimentos que adquiri nesse livro. Nunca li algo parecido e acho que contribuiu e muito para meu crescimento como leitora e escritora. Gary Jennings conseguiu fazer algo que eu julgava impossível: colocar no papel em forma de romance uma cultura que não mais existe, sem alterar em nada o contexto histórico. 
 Poucas pessoas marcaram-no como lido no skoob, mas a classificação é ótima. Creio que todos que pegam "Orgulho Asteca" para ler sentem-se receosos no início, mas isso muda já nas primeiras páginas. Indico e MUITO a leitura! Vale a pena, apesar do número de páginas. Recomendo só uma coisa... Não seja tão impressionável e abandone o relato como o frei e os frades (rsrs), pois sempre haverá algo que o fará sentir assim nas páginas seguintes, mas isso só torna o livro ainda mais precioso.


Trechos
 Estamos sinceramente desejosos de obedecer à cédula de Vossa Majestade, que nos pede um relatório verídico de tudo o que merece ser sabido sobre essa terra. Mas outros além de nós dirão a Vossa Majestade que os índios são seres vis, nos quais dificilmente se há de encontrar vestígios de humanidade; que nem mesmo têm uma linguagem escrita inteligível; que nunca tiveram leis escritas, mas apenas costumes e tradições bárbaros [...].” Página 14
 Agora frei Domingo nos abandona, e precipitadamente. É estranho como um homem pode ser afetado por algumas palavras e outro por outras. Penso que as palavras evocam imagens diferentes em mentes diferentes. Mesmo na mente dos escribas impessoais, os quais supostamente as ouvem apenas como sons e registram como simples sinais no papel.” Páginas 249 e 250
 Repulsivo, Excelência? O que o horroriza e lhe provoca náuseas, penso, é o número de homens sacrificados ao mesmo tempo. Mas como, meu senhor, é possível medir a morte, que não é uma eternidade e sim um vazio? Como é possível multiplicar a existência por um número conhecido pela aritmética? Quando apenas um homem morrer, todo o universo vivo termina no que diz respeito a esse homem. [...] Excelência, o mundo e tudo o que ele é morre todo o dia para alguém.” Página 346
Bom, isso é tudo!
:)
Espero que tenha gostado de minha primeira resenha!




Gostou? Então compartilhe! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário